“Quando eu nasci, minha mãe doou para o Banco de Leite. Ela também tinha bastante leite e foi doadora”, comenta Isabella Dal Molin, 35. Três décadas e meia depois, ela dá continuidade ao que a mãe começou. “Eu doo hoje em dia 7 litros e meio por semana”, comenta.

Imagem ilustrativa da imagem Família de Londrina é doadora do Banco de Leite há duas gerações

Cecília nasceu há 8 meses, mas no início a psicanalista enfrentou dificuldades e só conseguiu doar o leite quando a filha tinha três meses. Uma questão apenas de adaptação e saúde para poder começar, pois o ato nunca foi um tabu. “Minha mãe, tias e avós sempre tiveram muito leite. Na minha família, todas doaram. Minha mãe fez enfermagem, quando eu nasci ela estava no último ano da faculdade. Para mim é muito natural doar, está na cultura da família”, explica.

Se a atitude já era uma certeza antes de se tornar mãe, a situação ficou ainda mais evidente quando a própria filha precisou do Banco de Leite. “Na primeira noite da Cecília, eu tinha muito leite e ela engasgava. As enfermeiras pegaram 10 ml do banco e ela dormiu um monte com aquela quantidade. Eu já sabia que era importante, mas ali eu vivi para sentir que fazia diferença”, comenta.

O mínimo que Dal Molin doou até agora foram 2 litros e meio por semana. Depois, quando iniciou o processo de quarentena e passou a ficar mais tempo com a filha, começou a produzir mais e a quantidade subiu para 7 litros e meio. “Meu freezer é basicamente para os frascos de leite”, ri.

Durante a pandemia, a psicanalista ficou sabendo que o número de leite arrecadado no BLH do HU de Londrina caiu, porque as mães ficaram mais temerosas em articular o processo e receber as visitas em casa. “Elas estavam preocupadas, eu não parei. A equipe não entra em casa, fica na porta, toda paramentadas, faz toda a higienização, eu mesma pego os potes, coloco nas bolsas térmicas, não tem problema. Não tive nenhum receio, eu nem questionei”, aponta.

Como parte de uma família de doadoras, Dal Molin acredita que todo o processo fluiu com muita naturalidade para ela, ainda que percebesse as diferenças. “Minha mãe tinha mais dificuldade, não existia a bomba elétrica, ordenhava na mão”, compara. Agora acredita ser tudo mais fácil. “Eu fico feliz em poder ajudar outras crianças e não só a minha”, acrescenta.

'FAÇO QUESTÃO,
PORQUE ISSO ME FAZ BEM'

Na primeira semana de vida de Lívia, hoje com 11 meses, a família buscou formas de ajudar outras crianças. Marcela Cavagnari de Souza, 35, procurou na internet um jeito de doar o leite que sobrava e encontrou informações sobre o BLH do HU de Londrina. “Meu marido e eu procuramos como guardar, a gente viu que tinha que ser um pote específico, com tampa de plástico e a gente não tinha. O Banco de Leite Humano fornece e manda esterilizado, vão em casa, nos orientam como proceder com higienização e armazenagem”, comenta.

No início, a quantidade doada era maior, aproximadamente dois vidros de 500 ml por semana. “Hoje não consigo completar um vidro de 500 ml a cada 15 dias, mas faço questão, porque isso me faz bem, eu não quero parar, o pouco que eu conseguir, eu quero doar”, afirma a fisioterapeuta.

Ela explica que os primeiros meses foram mais difíceis, pois tudo era uma adaptação, mas que contou com a ajuda do marido para poder retirar e guardar o leite. “Enquanto ela mamava em um peito, eu colhia no outro e eu tinha a bomba elétrica. Quando terminava a coleta, meu marido fazia higienização. Foi essencial ter alguém para ajudar, porque nos primeiros dias a gente fica muito cansada”, menciona. Atualmente, ela afirma que faz tudo com mais tranquilidade e satisfação. “É prazeroso encher os potinhos sabendo que vai ajudar.”

A mãe pretende continuar amamentando a filha e também ajudando outros bebês que precisam. “Enquanto ela estiver mamando vou fazer essa doação. Eu quero ajudar os bebês que estão lá e que por algum motivo as mães não conseguem. Tenho muito prazer em doar”, salienta.