De acordo com o Planares (Plano Nacional de Resíduos Sólidos), cerca de 50% da massa de lixo gerada em lares e residências nas grandes cidades brasileiras correspondem a resíduos sólidos orgânicos, como restos de alimentos, folhas, podas de plantas, entre outros. Desta fatia, menos de 4% é encaminhada ao processo biológico de decomposição - compostagem. Em Londrina, este índice não atingiu 0,1% em 2022, conforme concluíram pesquisadores membros do Ninter (Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Resíduos) da UEL (Universidade Estadual de Londrina) a partir dos dados contidos no PMGIRS (Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos).

Sobre esse baixíssimo volume de massa orgânica destinada à compostagem, o relatório explica que a coleta diferenciada no município é exclusividade do quadrilátero central de Londrina desde 2011. Quando analisados os dados, fica evidente o vácuo nas ações e iniciativas para um melhor aproveitamento dos resíduos orgânicos.

Isso porque, de acordo com o PMGIRS, Londrina encaminhou 12 m³ por mês de composto em 2022, sendo que cada metro cúbico é formado a partir de 295 kg de resíduos orgânicos. “Podemos afirmar que aproximadamente 42,5 toneladas de resíduos orgânicos passam anualmente pelo sistema de compostagem, ante as mais de 50 mil toneladas anuais geradas, o que equivale a menos de 0,1% da massa total de resíduos orgânicos do município”, conclui o relatório.

MATERIAIS RECICLÁVEIS

Outro dado que demonstra o quanto o município precisa avançar no cumprimento das metas e diretrizes estabelecidas na Política Nacional de Resíduos Sólidos é a baixa taxa de aproveitamento dos materiais recicláveis em novos processos produtivos. De acordo com dados levantados pelos pesquisadores a partir da base de informações do Ministério das Cidades, apenas 4,74% dos resíduos encaminhados para o sistema de coleta seletiva foram reciclados em 2022.

Na prática, 95.2% deste volume foi encaminhado para a CTR (Central de Tratamento de Resíduos), no Distrito de Maravilha, na zona sul, a um custo direto de R$ 202,01 por tonelada (coletada e aterrada), embutido na taxa de lixo paga anualmente pelos contribuintes no início do ano, junto ao IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano).

Estes dados integram o relatório “Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos do Município de Londrina 2020-2022”, que foi apresentado em evento na UEL, na última semana. O lançamento e a discussão sobre os temas contaram com a presença de autoridades, além de docentes e estudantes da UEL

ECONOMIA CIRCULAR

Embora esteja à frente de cidades como Curitiba, Maringá e Ponta Grossa, “não é possível afirmarmos que Londrina é uma cidade de economia circular”, lamenta a professora Lilian Aligleri, coordenadora do Ninter e integrante da equipe que se dedicou à pesquisa e elaboração do documento por pelo menos 14 meses.

Para o grupo, a falta de eficiência na inserção do material reciclado em novos ciclos produtivos é explicada por fatores como a separação incorreta, sujidade, contaminação e a falta de uma cadeia de compradores que tenham interesse no material triado pelos catadores de materiais recicláveis na cidade.

“É um problema de Londrina? Não, é um problema nacional”, destaca o professor Caio Victor Lourenço Rodrigues, durante apresentação do relatório na UEL. “Outras cidades, por exemplo, Curitiba, recicla 2,5%. Mas também temos bons exemplos no Brasil, como Caxias do Sul, que ultrapassa 10%, e São José do Rio Preto (SP). Então, é como eu brinco com meus alunos: Londrina está tirando notas acima da média dos colegas, mas ainda não suficiente para passar de ano."

O relatório traz dados antes “escondidos” em meio a planilhas e documentos públicos, promovendo análises e reflexões com vistas à implementação e monitoramento da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Para atingir esse objetivo, o relatório, que é o único documento sobre o tema a ser produzido por uma universidade na região Sul do Brasil, foi dividido em três dimensões: Governança e Controle Social (1); Econômica e Financeira (2); e Geração e Manejo de Resíduos Domiciliares (3).

Para cada uma das três dimensões exploradas, o grupo de pesquisa encerra o relatório com apontamentos cujo propósito é o de aumentar o engajamento da sociedade civil sobre os problemas envolvendo a má gestão dos resíduos sólidos, como o da proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue. O objetivo do Ninter é atualizar o estudo a cada dois anos.

Desenvolvido pelo Ninter, o documento contou com a coordenação de Felipe Nepomuceno Coimbra Santos. A equipe técnica foi composta pelos docentes Lilian Aligleri e Benilson Borinelli, do Departamento de Administração (Cesa); Caio Victor Lourenço Rodrigues, do Departamento de Construção Civil (CTU) e Camila Doubek Lopes, do Departamento de Design (Ceca); os colaboradores Edson Henrique Gaspar Massi e Felipe Nepomuceno; e os estudantes colaboradores Ana Flávia Singulani Mendonça, Marcela Koga Oliveira Ferreira e Viviana Samara Yoko Matsui.

NINTER

O Ninter é um órgão de colaboração aberta interdisciplinar, multidisciplinar e transdisciplinar de apoio à Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (P,D&I) em resíduos com o propósito de unir saberes científicos e tecnológicos para criar soluções relacionadas às questões de resíduos em Londrina e região, contribuindo para uma sociedade mais sustentável.

(Com informações da Agência UEL)