História e desenvolvimento: o nosso Monte Castelo
Batalha travada na Segunda Guerra pode inspirar brasileiros para batalhas do cotidiano nacional
PUBLICAÇÃO
sábado, 04 de junho de 2022
Batalha travada na Segunda Guerra pode inspirar brasileiros para batalhas do cotidiano nacional
Domingos Pellegrini
Na Segunda Guerra, quando a Força Expedicionária Brasileira lutava na Itália, um pelotão foi convocado para missão secreta, e de caminhão foram a Florença onde já estavam outros. Com a tropa em forma, ficou claro que, já pelas diferenças raciais, eram pelotões de todas as nações aliadas: ingleses, escoceses, norte-americanos brancos, norte-americanos negros, neozelandeses, indianos, árabes e brasileiros. Estes formavam o único pelotão de que não se podia dizer a origem só bastando olhar, pois eram loiros, brancos, mulatos, pretos, índios e até um nissei, o segundo-tenente Massaki Udihara.
Estavam ali para recepcionar Winston Churchill, em visita à Linha Gótica, a barreira armada no Norte italiano pelo nazismo alemão, e que logo os brasileiros ajudariam a quebrar em Monte Castelo. Depois que a tropa se desfez, rodearam os brasileiros e alguém perguntou como conseguiam manter um exército com aquele mistura, e o sargento Nilton Vasco Gondim, com forte sotaque alemão-gaúcho, respondeu: - Nós somos assim.
Quem conta isso, em seu livro "O Quinto Movimento", é Aldo Rebelo, que também vê o Brasil majoritariamente mestiço. Há quem se engane vendo um país majoritariamente negro, para isso somando todos os 45% de mestiços aos 8% de negros (enquanto, se somarmos os mesmos mestiços aos 45% de brancos, teríamos um país majoritariamente branco). Ocorre porém que, na realidade, os mestiços não são inteiramente nem negros nem brancos, e é uma violência mental querer que sejam vistos ou somados apenas como metades. Nossa maioria não é nem branca nem negra, as duas aliás em progressiva diminuição, nossa maioria é mestiça em constante crescimento.
Mas voltemos a Monte Castelo. Em seu livro "As Duas Faces da Glória", Willian Waack conta que nas primeiras investidas os brasileiros deixaram corpos no solo, que à noite focam minados pelos alemães e, ao serem recolhidos no dia seguinte, explodiram. Então nossos homens, desobedecendo ordens, rugindo de raiva subiram aquele montanha e tomaram a fortaleza, mesmo perdendo num só dia quatrocentos dos quinhentos brasileiros que ficaram no solo da Itália.
Também a escravidão brasileira foi uma indignidade que só pode ser vencida mesmo com garra. Não bastam denúncias, não bastam protestos e processos, nossa gente negra e mestiça precisa agarrar as oportunidades e perseguir objetivos, nos lugares onde a luta é crucial como foi em Monte Castelo: nas escolas, entrincheirados entre livros, batalhando diante de computadores, estudando não pra diploma, mas pra aprender e dominar as técnicas, as nossas armas diárias. Lutando para criar o próprio trabalho, em vez de apenas procurar emprego. Poupando para empreender, praticando a arte de trabalhar em equipe.
Há século os nipo-brasileiros estão a mostrar o caminho da educação como prioridade familiar. Nossa grande guerra agora é combater a evasão escolar como combatemos em Monte Castelo - com garra, melhorando o ensino fundamental, que nesta palavra já diz tudo, e que é gratuito e aberto a todos, para, desde a base, vencer a incompetência e o despreparo que impedem de avançar, para enfim derrotar a desigualdade com aquilo que realmente igualada os seres humanos, prosperidade.
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A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.
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