Fizemos um jardim de pedras, e o inverno chegou mas nosso jardim de pedras está florindo.

No começo, nem era para ser um jardim, a intenção era apenas cobrir de algum jeito a área cimentada da cisterna no gramado diante da varanda. O município exige cisterna na construção de casas, então cavou-se no terreno um buraco quadrado de seus três metros de lado, e ali foi colocada a cisterna para a água de chuva captada pelas calhas do telhado, coisa boa, mas acima do chão o quadrado de cimento parecia uma afronta a nossa varanda e seus belos pilares de madeira.

Então pensamos em cobrir aquilo, mas com que? Pedras, Dalva anteviu e foi logo comprar sacos de pedregulhos brancos de jardinagem. Cobrimos de pedregulhos o quadradão de cimento e já ficou muito melhor – mas também ficou claro que, sem alguma contenção, logo os pedregulhos seriam pisados ou poderiam rolar pra lá e pra cá, precisavam ser contidos em seu espaço no mundo.

Mas conter com que nossos pedregulhos brancos? Um ordinária fieira de tijolos ou... pedras de novo, atinamos vendo pedras na beira da estrada a caminho da cidade. E lá fui eu com o neto Caetano, eu idoso e ele rapagão, juntando experiência e empolgação, e nos orgulhamos de catar e trazer a muque no carro várias cargas de pedras. Com cuidado para não amassar o carro nem quebrar ossos ou dedos...

Do carro para a cisterna, levamos as pedras na carriola, e mais orgulhosos ficamos quando Dalva nos deu parabéns pelas nossas “rochas”.

Os três cercamos os pedregulhos com as assim promovidas rochas, depois ficamos olhando. Pra mim são pedras históricas, falei, porque deve ser a última vez que carrego peso assim. Nem devia ter carregado, Dalva falou – e, como a lhe dar razão, depois tive uma crise de coluna bem dolorida, mas feliz com nosso jardim de pedras.

Nele parecia entretanto faltar alguma coisa, até que novamente atinamos: se era para ser jardim, teria de ter plantas, e, claro, para combinar com as pedras só poderiam ser cactos e semelhantes. Então plantamos cactos entre as rochas e, em alguns pontos entre os pedregulhos, em pouca terra enfiamos suculentas e outras plantas que não pedem rega nem cuidados.

E esquecemos nosso jardim de pedras, mas ele não esqueceu de fazer o que fazem os jardins: floriu! Primeiro ergueu pendões com grossas pontas, que de um dia para outro se abriram em grandes jorros de flores.

Então ficou completo nosso jardim – com pedregulhos, rochas, espinhos e flores. No dia seguinte, chegaram boas notícias, e interpretamos as flores como felicitações por tudo de bom que nos acontece. E. surpresos, vimos como ao sol poente elas reluzem, passamos a chamar de florões.

Mas já por ser sol poente, sempre anoitece mas temos certeza de que amanhã estará no seu lugar, mesmo que um dia novamente sem flores, o nosso jardim, imune às secas e sem temer tempestades, pois é um jardim de amor na forma de pedras.