A cada dia que passa, além de ficar mais velho, reforço algumas convicções. Para algumas pessoas isso é teimosia. Para mim é aprendizado.

No campo da inovação e do empreendedorismo, meu grau de certeza aumenta em relação ao papel da ciência no desenvolvimento de novas tecnologias inovadoras. Também não me resta dúvidas de que a universidade pública é o caminho para que nosso país deixe a condição colonial de exportador de commodities agrícolas para se tornar produtor de inovações mundiais.

Óbvio, diz meu leitor já acostumado com minhas elucubrações. Nem tanto, digo eu. Se o fosse tão simples, não estaríamos vivenciando um dos períodos mais críticos e desafiadores para as instituições de ensino da história.

Como esse assunto é denso e extenso, vou me ater hoje a tratar do porquê é a ciência que cria as maiores e mais importantes do mundo. Novamente meu leitor mais impaciente diria, claro! Nem tanto, respondo eu. Poucas pessoas sabem, por exemplo, que a tecnologia disruptiva criada pela Apple foi gestada a partir de descobertas científicas das décadas de 1950, 60 e 70 financiadas pelo governo norte-americano para finalidades muito distintas de vender computadores ou smartphones. Menos gente sabe ainda que o financiamento de pesquisa faz parte de um programa de Estado, não é de governo, que estabelece a ciência como o pilar do desenvolvimento econômico do país.

Conheci nesta semana os fundadores da startup Bio 3, incubada na Agência de Inovação da Universidade Estadual de Londrina (UEL). A empresa nascente é formada pelos estudantes de doutorado na UEL Daniel Vieira da Silva e Maria Luzia Abreu de Jesus, João Paulo de Oliveira, que realiza doutorado na Universidade Tecnológica do Paraná (UTFPR), e o professor da UEL Admílton Gonçalves. Todos eles trabalham juntos no Laboratório de Biotecnologia Microbiana da UEL.

Segundo os fundadores, o propósito da empresa nascente é selecionar microrganismos com potencial na agricultura por meio, por exemplo, de um inoculante ou um biodefensivo. Apesar do pouco tempo de vida da startup, eles já criaram alguns protótipos, dentre eles para solubilização de fósforo e combate a fungos. Ainda não há um produto vendido no mercado, mas os testes de campo para validação das novas tecnologias já estão sendo testados no campo. Em linhas gerais, a firma incubada na UEL busca diminuir os impactos ambientais gerados pela atividade agrícola, reduzir a dependência de agroquímicos e ainda melhorar a lucratividade para o produtor que terá um custo de produção menor. “A gente busca não substituir, mas complementar”, disse João se referindo aos defensivos químicos caros e de elevado impacto ambiental.

Os propósitos nobres da startups esbarram no fato de que inovar nesse campo é caro e leva muito tempo. Não por acaso, nenhuma startup unicórnio brasileira - aquelas com valor de mercado acima de 1 bilhão de dólares- desenvolveu tecnologia no campo das ciências naturais.

Como sair desse imbróglio? Conversaremos na semana que vem ;)

Lucas V. de Araujo: PhD e pós-doutorando em Comunicação e Inovação (USP). Professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), parecerista internacional e mentor Founder Institute. Autor de “Inovação em Comunicação no Brasil”, pioneiro na área.