O mês que começou com desempenho fraco na indústria automotiva no país pode terminar com um alento às empresas do setor. Após a produção nacional de veículos automotores, reboques e carrocerias, registrar queda de 4,6% em abril ante março, o programa de incentivo às vendas de veículos de passeio aumentou o fluxo de clientes nas concessionárias de Londrina que desde o dia 5 de junho, quando foi anunciado pelo governo federal, viram as vendas crescerem em até 30%. A expectativa agora é pela prorrogação da medida, já que em algumas lojas começam a faltar os modelos mais básicos.

Fortemente afetada pela pandemia de Covid-19, a indústria automotiva ainda não se recuperou dos efeitos da crise sanitária. Juros altos, aumento do endividamento, achatamento do poder de compra da população e paralisação das atividades nas fábricas impedem a retomada do setor. Neste cenário, a concessão de R$ 500 milhões em créditos tributários pelo governo federal ajuda a dar um fôlego ao setor.

“Aumentaram bastante as vendas, deu uma melhorada. Acredito que tenha havido uma alta de 30%”, calculou o gerente de Vendas da Cipasa, Luiz Carlos de Andrade. A maior procura, segundo ele, é pelos carros de entrada. Entre os modelos produzidos pela Volkswagen, o Polo Track 1.0 é o mais barato a entrar na lista de descontos oferecidos pela montadora. Com os incentivos do governo, o preço do modelo baixou R$ 8 mil, saindo de R$ 82.990 para R$ 74.990. “Os clientes estão voltando. Vamos torcer para que o governo prorrogue (a medida) porque, de certa forma, o estoque não está compatível com a demanda neste momento. A montadora não tinha um estoque tão grande para carros de entrada”, disse Andrade.

Além da redução de preços aplicada na versão mais básica do Polo, a Volkswagen também reduziu o preço de alguns modelos mais caros. O T-Cross Sense baixou de R$ 118 mil para R$ 109.990 e o Nivus Sense baixou de R$ 130 mil para R$ 115.990. Queda de 6,7% e 10,7%, respectivamente. “Somente ontem (segunda-feira, 19), vendemos cinco unidades dessa versão do Nivus”, comemorou o gerente da Cipasa.

A Renault e a Fiat são as duas montadoras que oferecem o maior desconto do programa. Há três versões do Fiat Mobi 1.0 Like Flex de quatro portas e uma versão da Renault, o Kwid 1.0 Zen, com o abatimento de R$ 8 mil. Além do desconto concedido pelo governo federal, a montadora francesa anunciou um desconto extra de R$ 2 mil, o que derrubou o preço da versão básica do Kwid para R$ 58.990. Antes da redução de mais de 14%, o modelo era comercializado a R$ 68.990.

“Nossas vendas dobraram desde o anúncio do programa do governo. Já teve bastante reflexo. Estava precisando desse incentivo para as pessoas comprarem o carro novo e as vendas estão dentro da nossa expectativa”, avaliou o gerente de Vendas da Renault Barigui, em Londrina, Thiago Willian Marques da Silva.

Embora a medida de incentivo tenha contribuído para alavancar as vendas neste momento, Silva afirma que a solução para a crise do setor depende de outros fatores, como a facilitação do acesso ao crédito aliada a uma política de juros mais baixos. “A dificuldade de acesso ao crédito devido aos juros elevados ainda é um empecilho”, comentou.

Na última segunda-feira (19), o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços atualizou as informações sobre o programa. Dos R$ 500 milhões em créditos tributários oferecidos pelo governo, R$ 320 milhões já haviam sido utilizados, volume que corresponde a 64% do total. Diante da grande procura, a expectativa é que a medida seja prorrogada. “A projeção é que os recursos acabem já no dia 26”, disse Silva.

Uma preocupação das concessionárias é que até esta terça-feira (20) as vendas estavam restritas a pessoas físicas, mas a partir desta quarta-feira (21), com a extensão do benefício a pessoas jurídicas, podem faltar veículos. O gerente de Vendas da Cipasa estima que as unidades disponíveis no estoque da concessionária devem ser suficientes para atender a demanda por apenas 40 dias, aproximadamente.

Proprietário da locadora de veículos Via Sul, em Londrina, Ricardo Calixto contou que quase todos os meses a frota da empresa passa por renovação. Com 70% dos veículos formados pelas versões de entrada, ele calcula que irá economizar R$ 160 mil na compra de novos automóveis. “Se sair o desconto, iremos trocar de 10% a 20% da frota toda”, planejou.

A partir desta quarta (21), benefício será estendido a pessoas jurídicas e concessionárias admitem que podem faltar veículos
A partir desta quarta (21), benefício será estendido a pessoas jurídicas e concessionárias admitem que podem faltar veículos | Foto: iStock

Os subsídios oferecidos pelo governo federal para a compra de carros novos acabam impactando positivamente também o mercado de usados. Ao incentivar a compra de veículos zero quilômetro, os seminovos entram na troca e vão abastecendo os estoques das lojas multimarcas, que nos últimos anos, têm sofrido com pouca oferta de usados no mercado. "Isso é excelente, de forma geral, para a gente. Faz o mercado girar, sair mais financiamento e o mercado sempre estar girando é o mais importante para a gente", destacou o proprietário da Caldarelli Veículos, Maruam Caldarelli. (Com Folhapress)