A quarta revolução industrial já está acontecendo e, pela primeira vez, podemos ser todos protagonistas de um movimento que nos afeta direta e indiretamente. Se as nossas casas já são uma pequena amostra do que estamos vivendo, com a internet ditando o nosso cotidiano, numa visão macro já vivemos uma nova era, onde a inovação é a tração que obriga a sociedade a encarar novas realidades e se adaptar a elas através da única estrada possível: o conhecimento.

As universidades se encontram no meio dessa nova realidade tecnológica e tentam vencer os desafios impostos por um antigo modelo de gestão para seguir preparando as novas gerações para um cenário absolutamente diferente daquele que as instituições de ensino ajudaram a forjar. Novas modelagens didáticas e um esforço para dominar as novas tecnologias antes que sejam elas a dominarem as universidade. Uma corrida contra o tempo, contra a morosidade dos processos, principalmente quando se trata do ensino público ainda engessado por burocracias.

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Ainda assim, é em um ambiente acadêmico que reside todo o potencial para o desenvolvimento socioeconômico dentro dessa nova revolução industrial, com a mente humana no comando da inteligência artificial, profissionais treinados para criar soluções para problemas, algo que o mercado está mais do que pronto para receber e muito disposto a pagar por isso.

SETE UNIVERSIDADES ESTADUAIS

Com a sorte de contar com sete universidades estaduais, o Paraná tem se proposto a ser um grande celeiro de talentos da área de TIC (Tecnologia de Informação e Comunicação). Projeto piloto e experimental, o Talento Tech-Paraná é o resultado de um consórcio que reúne a SETI (Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior), Fundação Araucária, Secretaria de Planejamento e a SEI (Secretaria da Inovação, Modernização e Transformação Digital) e visa continuar formando pessoas, papel fundamental das universidades estaduais públicas paranaenses desde a fundação das mesmas, todas no interior do Estado.

Essas pessoas deverão ser especialmente experts na Indústria 4.0, essa que utiliza todas as tecnologias atualmente e futuramente disponíveis para gerar conhecimento e produtividade. “Estamos falando de tecnologias emergentes integradas às operações industriais e que permitem sistemas de produção mais inteligentes e interconectados”, explica Miguel Sanches Neto, reitor da UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa), palestrante da 21ª edição do Encontros Folha.

TALENTO TECH-PARANÁ

O Talento Tech-Paraná tem apenas dois meses de vida e deve atender certa de 3 mil estudantes do ensino médio e superior em 50 municípios com menor IDH do Paraná oferecendo 150 cursos ao longo dos 15 meses de duração, com carga horária de 800 horas/aula presenciais e à distância e bolsas mensais de R$ 1.345. A UEPG coordena o programa que conta ainda com a participação das outras universidades, entre elas a UEL.

Através da extensão e dos projetos de pesquisa, explica o reitor, a universidade se torna uma agência de desenvolvimento regional ao colocar em funcionamento a maioria das políticas públicas do Brasil e do Paraná. “Para além da formação dos nossos estudantes, dos nossos pesquisadores, trabalhamos na atenção à população como um todo para que haja uma melhoria social, econômica, cultural e de qualidade de vida de toda essa população. Quando se fala em universidade pública, nunca podemos pensar só quantos alunos a universidade forma nos bancos escolares, porque a sua atuação é muito maior em todos os segmentos da sociedade”, completa.

EXTENSÃO

Assim como a UEL, a UEPG também tem alunos do ensino fundamental, médio, graduação, pós (mestrado e doutorado) e a universidade aberta para a terceira idade. “Seria muita crueldade dizer que a universidade atende apenas as pessoas na graduação", ressalta. Com o Talento Tech-Paraná, as universidades públicas paranaenses assumem mais um compromisso: aquele de preparar uma legião de jovens aptos a atuarem nos mercados de TIC ao longo de três edições, de cerca mil alunos em cada uma delas. Na última fase do percurso de aprendizado, entra em cena um outro ator fundamental para o sucesso do projeto: as empresas de TI parceiras, onde os alunos poderão colocar à prova tudo que foi aprendido e com um aspecto importante, sem deixar o município onde vivem, se tornando eles mesmos agentes de transformação da própria realidade local.

EMPREGABILIDADE

“Nossa expectativa, para além dos números, é de que parte desses alunos já consiga se colocar dentro do mercado e, ao final do curso, já tenha um emprego nessa área onde existe uma carência muito grande de pessoas formadas na área de tecnologia, da informação e de comunicação. Mas, para além do emprego, acredito que estamos criando também vocações para tecnologias nas pequenas cidades para que esses alunos que fizeram o nosso curso possam vir fazer o curso superior em uma universidade pública, na UEL, na UEM, na UEPG”, afirma Sanches Neto.

A tecnologia também tem um forte impacto na vida das Universidades, diz o Reitor, principalmente a inteligência artificial. “Não podemos ser hipócritas ao ponto de fechar os olhos para isso ou achar que os nossos alunos não vão usar, que os nossos professores não vão utilizar. A abertura para a inteligência artificial e para uma nova modelagem didática das nossas atividades é fundamental para sobrevivermos enquanto universidade", analisa. "o maior desafio didático e pedagógico, dos próximos dois, três anos, é transformar a inteligência artificial em uma parceira das universidades”.

Para Sanches Neto, a questão da empregabilidade já está afetando até a próprio formato dos cursos de graduação das universidades, com uma certa pressão do mercado por cientistas de dados e outros profissionais da área, com ofertas que chegam até mesmo antes do canudo. “O maior problema hoje é que as carreiras estão se modificando ou desaparecendo. Cerca de 65% das profissões que estarão em atuação daqui a 10 anos ainda nem foram criadas", ressalta, lembrando que o autoconhecimento, a busca pela autoformação e a autonomia de estudo permite o acesso ao conhecimento antes da faculdade. "O desafio da universidade hoje, para inovar, é perceber que nós não precisamos dar aqueles cursos tão extensos, nós temos que ensinar aquele aluno a buscar o conhecimento para a vida. Inovações não são apenas tecnológicas e nos ajudam a entender o papel da nossa instituição nesse processo de transformação social que estamos vivendo”, completa.