Síndrome de Burnout, doença do trabalho cada vez mais comum
Reconhecida pela OMS, Burnout aponta para a necessidade de valorizar relações trabalhistas; doença é resultado de estresse crônico
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022
Reconhecida pela OMS, Burnout aponta para a necessidade de valorizar relações trabalhistas; doença é resultado de estresse crônico
Walkiria Vieira - Grupo Folha
![Sibely de Oliveira Lazari, advogada: "A classificação atual da Síndrome de Burnout na CID -11 torna ainda mais relevante toda e qualquer providência do empregador no sentido de promover a valorização do trabalho”](https://www.folhadelondrina.com.br/img/Artigo-Destaque/3160000/400x0/Sindrome-de-Burnout-doenca-do-trabalho-cada-vez-ma0316471300202202111553-14.webp?fallback=https%3A%2F%2Fwww.folhadelondrina.com.br%2Fimg%2FArtigo-Destaque%2F3160000%2FSindrome-de-Burnout-doenca-do-trabalho-cada-vez-ma0316471300202202111553.jpg%3Fxid%3D5669999&xid=5669999)
Desde o início de janeiro de 2022 está em vigor a 11ª revisão da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-11), editada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A advogada e sócia do escritório De Paula Machado, Sibely de Oliveira Lazari, explica que a nova classificação descreve a Síndrome de Burnout como um quadro “resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso."
De sua experiência com ações trabalhistas, alerta: "A CID-11 também delineia as seguintes características que serão levadas em consideração no diagnóstico: sentimentos de esgotamento ou exaustão de energia; aumento da distância mental do trabalho, ou sentimentos de negativismo ou cinismo em relação ao trabalho; e uma sensação de ineficácia e falta de realização".
Segundo a advogada, uma das indagações que surgem em decorrência desse novo enquadramento para Lazari é: "Até que ponto isso interfere nas rotinas de trabalho?" E responde: "Se considerarmos que oferecer um ambiente de trabalho saudável já é uma obrigação legal do empregador, e que medidas que proporcionem saúde e bem-estar aos trabalhadores também podem melhorar a produtividade, pouco teria mudado".
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Entretanto, a conhecedora das leis trabalhistas lembra que o mundo globalizado tem submetido as pessoas a variados gatilhos estressores também fora do ambiente de trabalho. "Trânsito intenso, violência urbana, risco de acidentes, uso excessivo de equipamentos eletrônicos, perdas de familiares e de amigos em decorrência da pandemia atual, dentre outros, tais fatores também podem atuar no desencadeamento de doenças psicológicas."
Nesse contexto, Lazari alerta que a classificação torna ainda mais relevante toda e qualquer providência do empregador para promover a valorização do trabalho, um ambiente saudável e a saúde de seus colaboradores", sustenta. Empregadores precisam estar atentos a situações do local de trabalho que podem, pela repetição, causar prejuízos emocionais que possam resultar em danos à saúde.
A advogada alerta ainda que inúmeros os fatores que poderão ser observados nessa nova postura preventiva necessária, a depender de cada atividade econômica. "O empregador deve verificar se as cargas horárias estão adequadas, a quantidade de trabalho é compatível com as funções e o tempo contratados, se não há exigência de metas excessivas, se eventuais conflitos são solucionados, se os colaboradores se sentem motivados e valorizados, se há situações de assédio moral, esses são alguns dentre vários outros aspectos que podem ser objeto de atenção patronal", observa.
DE PACIENTE A CONSULTORA DE EMPRESAS
![Juliana Leal: "Empresas me procuram para participar de projetos de gestão humanizada, e transformação organizacional"](https://www.folhadelondrina.com.br/img/inline/3160000/0x800/Sindrome-de-Burnout-doenca-do-trabalho-cada-vez-ma0316471300202202111553.webp?fallback=https%3A%2F%2Fwww.folhadelondrina.com.br%2Fimg%2Finline%2F3160000%2FSindrome-de-Burnout-doenca-do-trabalho-cada-vez-ma0316471300202202111553.jpg%3Fxid%3D5670006&xid=5670006)
No ano de 2012, Juliana Leal trabalhava como executiva na área administrativa de uma grande empresa multinacional de contact center. "Precisei me afastar e fiquei 18 meses em processo de cura. O que me ajudou muito e a partir dessa experiência, venho me especializando na metodologia da Neuro-Semântica criada pelo americano Dr. Michael Hall, PhD em Psicologia Cognitivo Comportamental", relata Leal que vive no Rio de Janeiro e concedeu entrevista à FOLHA.
A diretora do endomarketing da SBNS - Sociedade Brasileira de Neuro-Semântica, é formada e treinada por essa metodologia e a aplica em trabalhos de bem estar e prevenção de burnout em empresas, uma delas, a Fiocruz. " Outra metodologia que utilizo há anos e tem sido muito eficaz, é o mindfulness e as intervenções da Psicologia Positiva, onde também capacitei profissionais da Fiocruz e nos meus cursos abertos da Psicologia Positiva", relata.
Leal destaca que várias doenças como o Burnout se agravaram com a pandemia e muitas empresas têm percebido o quanto a Psicologia Positiva pode ajudar neste processo de prevenção da doença. "Facilito programas de conscientização como steakholders e desenvolvo treinamentos específicos aplicados ao PERMA (emoções positivas, engajamento, relacionamentos positivos, propósito e autorrealização)", expõe.
PRÁTICAS QUE SÃO REFERÊNCIA
![Bibiana Ribeiro Werner atua na Superintendência de Relacionamento do Sicredi de Porto Alegre: ações no cotidiano promovem bem-estar e produtividade](https://www.folhadelondrina.com.br/img/inline/3160000/0x800/Sindrome-de-Burnout-doenca-do-trabalho-cada-vez-ma0316471301202202111554.webp?fallback=https%3A%2F%2Fwww.folhadelondrina.com.br%2Fimg%2Finline%2F3160000%2FSindrome-de-Burnout-doenca-do-trabalho-cada-vez-ma0316471301202202111554.jpg%3Fxid%3D5670007&xid=5670007)
Bibiana Ribeiro Werner atua na Superintendência de Relacionamento do Centro Adminstrativo do Sicredi, que fica em Porto Alegre, no RS, e o bom clima de trabalho entre os colaboradores é resultado de ações que vão ao encontro da produtividade e do bem-estar de todos. Werner trabalha há 22 anos no Sicredi, atualmente dedicada à Cultura, Educação e Felicidade no Trabalho.
Com base em fundamentos e metodologias estratégicas, levando também em consideração o papel dos gestores durante e pós-pandemia, o impacto imediato no cenário organizacional e novas formas de trabalho, Bibiana esclarece que desde que começou a pandemia deu-se início a todo um trabalho remoto com ações para cuidar das pessoas e avaliar como estavam na nova rotina. "Nesse momento começamos também a pensar na questão da felicidade no trabalho", expõe.
Com perspectivas, investiu. "Fiz alguns cursos e certificação com Carla Furtado, do Instituto Feliciência como Hapinnes Office e Hapiness Skills e começamos a preparar as pessoas para o projeto ‘Felicidade no Trabalho’, no qual começamos a falar sobre felicidade. Incialmente, trabalhamos mais treinamentos comportamentais comunicação não violenta, habilidades para o trabalho. Também passamos por uma pesquisa sistêmica de clima e com base nos resultados, que foram bons, mas entendemos que sempre há necessidade de melhoria", avalia.
Assim, antes de iniciar o projeto, os colaboradores tiveram a chance se expor seu nível de felicidade no trabalho. Nosso foco no projeto foi a felicidade de quem trabalha no atendimento, considerando que a integração e o encantamento para atender são pontos fundamentais nesse processo. "O encantamento interno é o mais importante. Pessoas precisam estar felizes para poder transbordar para o encantamento externo", sustenta. As ações possuem 360 graus, ou seja, são táticas, estratégicas e envolvem o todo.
A partir disso, nasceu a iniciativa "Felicidade de quem Trabalha no Atendimento", com uma proposta desenhada a partir dos pilares: aferição da satisfação no trabalho; entendimento dos resultados da pesquisa de clima, trilha de formação para lideranças formais e informais; treinamentos comportamentais; foco na jornada de onboarding, que é o processo de recepção a novos colaboradores.
Werner destaca que houve acolhimento interno, que resultou em cotidiano de desenvolvimento das pessoas. “Alguns aspectos fundamentais tem sido o apoio de diversas áreas em prol do objetivo e o incentivo da liderança da área de Relacionamento do Centro Administrativo, a partir do entendimento que nossos profissionais que atuam com atendimento só vão conseguir encantar os associados se estiverem felizes no trabalho”, explica.
RH DEVE ASSUMIR POSTURA DE ANTECIPAÇÃO
![Henrique Gambaro: "O empregador também pode adoecer e são os casos mais difíceis de se identificar"](https://www.folhadelondrina.com.br/img/inline/3160000/0x800/Sindrome-de-Burnout-doenca-do-trabalho-cada-vez-ma0316471302202202111554.webp?fallback=https%3A%2F%2Fwww.folhadelondrina.com.br%2Fimg%2Finline%2F3160000%2FSindrome-de-Burnout-doenca-do-trabalho-cada-vez-ma0316471302202202111554.jpg%3Fxid%3D5670008&xid=5670008)
Do ponto de vista do Mestre em Administração, professor e Especialista em Marketing e Recursos Humanos, Henrique Gambaro, o reconhecimento da síndrome pela OMS promove uma discussão necessária e mais comum. "Devemos partir do princípio que toda organização é responsável pela saúde física e mental de seus colaboradores e que esta responsabilidade deve se dar pelos cuidados que a organização deve apresentar no dia a dia na realização de suas atividades. O RH das empresas agora devem assumir uma postura de antecipação, prevenção e precaução de possíveis atitudes da organização", considera.
O empregador também pode adoecer e Gambaro aponta que esses podem ser os casos mais difíceis para identificar. "Possuem uma carga de trabalho muitas vezes extenuantes e muitos empregadores as justificam pela necessidade de alcançar bons resultados e, principalmente, pelo medo do fracasso. O pior é que este indivíduo se acostuma com esta situação e quando a Síndrome aparece e não é reconhecida, entra num processo de negação em um jogo onde a sua derrota é certa. Para que isto seja evitado, estes profissionais, empregadores/empreendedores, devem buscar uma qualidade de vida equilibrada", orienta.
![Sibely de Oliveira Lazari, advogada: "A classificação atual da Síndrome de Burnout na CID -11 torna ainda mais relevante toda e qualquer providência do empregador no sentido de promover a valorização do trabalho”](https://www.folhadelondrina.com.br/img/inline/3160000/0x800/Sindrome-de-Burnout-doenca-do-trabalho-cada-vez-ma0316471303202202111554.webp?fallback=https%3A%2F%2Fwww.folhadelondrina.com.br%2Fimg%2Finline%2F3160000%2FSindrome-de-Burnout-doenca-do-trabalho-cada-vez-ma0316471303202202111554.jpg%3Fxid%3D5670009&xid=5670009)
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