O futebol tem a magia de surpreender e criar emoções mesmo quando sabemos qual pode ser o resultado. Mas o que mexe, e muito, com nossas emoções é que mesmo esperando uma vitória ela precisa ser construída, e isso é que nos torna vulneráveis para sorrisos e lágrimas. É possível imaginar antes, mas nunca sentir.

O Real Madrid proporcionou mais um dia de sonhos. E não foi só para sua torcida que pôde comemorar a contratação de mais um jogador excepcional. Foi para um menino de 18 anos, que há menos de uma década prometeu que mudaria a vida da própria família que vivia com muitas dificuldades. E, mesmo antes de ficar diante de um Santiago Bernabeu lotado, já tinha cumprido a promessa.

Endrick está no Real Madrid. Está no clube dos sonhos para qualquer jogador. A trajetória foi rápida, sim, mas porque o talento e oportunidades tiveram uma caminhada sincronizada e de aproveitamento. Família, trabalho, Palmeiras e o próprio jogador desenharam um caminho que poderia ser um roteiro de filme e tornaram realidade. Agora, o trabalho continua e a cobrança aumenta.

Endrick é exemplo positivo e negativo ao mesmo tempo. Positivo, porque mostra o que dedicação e trabalho podem fazer na transformação de uma pessoa e em todos à sua volta. E não é só financeira. É cultural também.

E ao mesmo tempo vira um exemplo “negativo” porque é exceção. O jovem que se torna referência para outros tantos milhares de meninos ao redor do mundo realiza uma conquista que só acontece com um entre milhares que têm o mesmo desejo.

Ele chorou de alegria diante de um estádio que o aplaudia. Mas a realidade cruel é de muitos meninos que choram por muito tempo por não saírem de uma vida real de dificuldades, mesmo tendo talento.

Há muitos outros jovens talentosos, mas o funil da vida escolhe alguns para contar histórias com final feliz. Estes exemplos, como Endrick, criam a expectativa do “é possível”, mas deixam a frustração para a maioria.

Ver a trajetória de Endrick gera satisfação até em quem não o conhece, e por isso emociona.

Endrick chorou porque estava feliz, porque é só um menino que sentiu de verdade tudo aquilo que havia sonhado.