O novo filme de Martin Scorsese estreia nesta quinta-feira (19) e o tema não poderia ser mais apropriado aos tempos em que as questões indígenas tomam boa parte do noticiário, muitas vezes em denúncias sem muita solução por parte dos poderes competentes. O caso brasileiro é um exemplo, desde a morte dos ianomâmis por inanição - ou pela contaminação das águas pelo mercúrio dos garimpos ilegais - até a sucessão de mortes violentas de líderes indígenas por exploradores que só conseguem enxergar os recursos naturais como fonte de lucro e não de equilíbrio planetário.

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Recentemente no Brasil, vimos os protestos quando o STF derrubou o Marco Temporal que estabelece o direito dos indígenas à sua terra só para os que nelas habitavam até 1988, ano da promulgação da nova Constituição. A aceitação desse limite é a negação de que até 1988 muitos já tinham sido expulsos de seus territórios, por isso já não estavam lá para cumprir o estabelecido por uma data que nada tem a ver com a história e a realidade dos fatos. A julgar por esse parâmetro é como se os indígenas só existissem como nação até o fim dos anos 1980. Seria cômico se não fosse trágico.

Do caso brasileiro para o mundo, não é de hoje que as terras indígenas são cobiçadas por aqueles que se consideram "grandes desbravadores", sem considerar a dizimação de culturas que têm um modo próprio de vida e são responsáveis pelo que sobrou de rios e florestas, engolidas pelos empreendedores de visão imediatista e nenhuma visão de futuro. O lucro assim se impõe como a "lei da selva", não a das plantas, animais e seus incríveis ecossistemas, mas a selva que não prevê a sustentabilidade como ponto de partida de qualquer ação econômica daqui para a frente, tendo em vista as profundas mudanças climáticas já em curso.

"Assassinos da Lua das Flores", dirigido por Scorsese, é um suspense policial verídico baseado num dos primeiros casos de homicídios investigados pelo Federal Bureau of Investigation (FBI), organização criada em 1908 e dirigida durante 38 anos por J. Edward Hoover que se tornou uma figura controversa. Após sua morte, em 1972, vieram à tona evidências de abuso de poder por ele ter assediado políticos dissidentes e ter utilizado vigilância ilegal, com escutas telefônicas e até roubos, que lhe permitiam chantagear figuras públicas.

Trata-se de mais um daqueles casos de violência que legitimam crimes travestidos de "política do bem."

Leonardo DiCaprio e Lily Gladstone em "Assasinos da Lua das Flores: uma história de amor e cobiça num filme de 3h26 de duração
Leonardo DiCaprio e Lily Gladstone em "Assasinos da Lua das Flores: uma história de amor e cobiça num filme de 3h26 de duração | Foto: Divulgação

BASEADO EM FATOS REAIS

Baseado no livro "Assassinos da Lua das Flores: Petróleo, Morte e a Origem do FBI", de David Grann, o filme conta a história real da série de assassinatos de membros da tribo indígena Osage, dos Estados Unidos, no início do século 20. Em clima de quase pós-faroeste, Scorsese e o corroteirista Eric Roth (Duna) contam uma história de amor, ganância e traição que traz verdades menos heróicas sobre os Estados Unidos.

O casamento entre um branco (Leonardo DiCaprio) e uma indígena da tribo Osage (Lily Gladstone), herdeira de terras ricas em petróleo, está no centro da trama que mostra a eterna cobiça por territórios nativos. Uma onda de assassinatos de indígenas ocorridos em Oklahoma no período lembra outras ondas de crimes que frequentam, ainda hoje, os noticiários tendo como causa provável a mesma ganância. No filme, a cobiça é por petróleo ou o "ouro negro", mas também poderia ser por madeira, minérios e até água.

O ELENCO

O elenco ainda conta com Robert De Niro - que faz o papel de tio do personagem de DiCaprio. Eles formam a dupla de atores preferidos de Scorsese, mas é Gladstone quem desponta como uma provável candidata ao Oscar por seu desempenho.

A produção da Apple Original Films, em parceria com a Paramount Pictures, conta com algumas curiosidades: embora Martin Scorsese tenha trabalhado com Robert De Niro e Leonardo DiCaprio em 16 filmes, esta é a primeira vez que os três trabalham juntos no mesmo filme - e é a primeira vez, em 30 anos, que Leonardo DiCaprio e Robert De Niro atuam juntos em um filme, depois de sua primeira colaboração em "O Despertar de um Homem" ("This Boy's Life").

Outra curiosidade é que Leonardo DiCaprio, Robert De Niro e Lily Gladstone aprenderam a falar o idioma Osage para o filme.

Esse é o 21º longa-metragem de Martin Scorsese com a editora Thelma Schoonmaker. A parceria já dura sete décadas, e Thelma é a única mulher a receber três Oscars na categoria de edição ("Touro Indomável", "O Aviador" e "Os Infiltrados").

O diretor de fotografia do filme, Rodrigo Prieto, foi diretor de fotografia de três videoclipes de Taylor Swift.

O diretor de arte Jack Fisk construiu seus cenários do zero, em vez de utilizar estúdios para gravação de som ou modelos gerados por computador.

O personagem que Jesse Plemons interpreta, Tom White, era um verdadeiro texano e um dos únicos agentes do FBI que J. Edgar Hoover permitiu que usasse um chapéu de caubói. Muitos dos figurinos incluíram peças que os atores Osage trouxeram de casa e que pertenceram a seus avós, que viveram durante o período retratado no filme.

Agora é aguardar a estreia com preparação para assistir às 3h26 de filme, o que para muitos não chega a ser um empecilho tendo em vista a produção de primeira grandeza com uma direção e elenco de feras.

O filme estará em cartaz em Londrina.

* Com informações de assessoria de imprensa.