GRAMADO ( RS) - Tranquila, elegante e bela, muito bela aos 73, Vera Fischer movimentou toda a mídia que cobre o festival exatamente durante uma hora, tempo suficiente para que ela exercitasse a memória lembrando momentos de uma trajetória artística na qual não faltaram os títulos que fizeram sua fama no cinema, televisão e teatro.

Conduzida e moderada pela jornalista e apresentadora Simone Zucolotto, do Canal Brasil, a coletiva mostrou que a atriz está em paz com a vida e a carreira. E muito aberta, quase ansiosa por convites para novas e desafiadoras incursões em seus espaços preferidos, o cinema e o teatro.

E foi pelo cinema que a conversa teve início, mais especificamente quando Vera, a catarinense ex miss Brasil, pensou em ser arqueóloga mas acabou pontificando nas pornochanchadas (que ela chama de “revolucionárias”) dos anos 1970 em títulos e tramas ousadas que desafiaram as tesouras da ditadura militar que então assolava o País – período do qual não se arrepende, e pelo qual nunca se sentiu estigmatizada.

Mas foi na década de 80 que a verdadeira dramaturgia cinematográfica entrou em suas veias, através das parcerias com Arnaldo Jabor e Walter Hugo Khoury, principalmente este, por quem ela confessa, além da admiração pelo cineasta, uma dívida pelo amplo aprendizado: foi uma aula permanente de cultura e três deles que foram marcos em sua evolução como atriz: “Amor Voraz”, “Forever” e “Amor Estranho Amor”. Ela se detém para falar particularmente sobre este, que até há pouco rendeu uma interminável polêmica com direito a extenso processo judicial, envolvendo a atriz Xuxa por conta de cenas de nudez dela com um garoto – o filme foi retirado dos cinemas e o caso originou uma desavença séria entre as duas atrizes. Que Vera diz totalmente superada com a “rainha dos baixinhos”.

Sobre televisão, a atriz diz não ter saudades de fazer novelas; e coita como sua preferida “Laços de Família”; série talvez volte a fazer. Mas a paixão maior continua pelos filmes, que ela quer e pretende retomar em breve. Sobre paixão, uma revelação inesperada. Perguntada sobre um parceiro de filmes com quem criou afinidades (muitas), com quem gostou imensamente de contracenar e de quem sente muita falta, Vera vai ao confessionário: José Wilker. As palavras são dela: “A gente se deu muito bem, eu fiquei encantada com aquele homem que sabia Literatura, muita poesia, teve um dia que fizemos um take na praia, ele me olhou nos olhos e recitou uma poesia do Drummond. E aí eu caí de quatro por ele. Depois ficamos amigos, fizemos outros filmes e outras novelas.”

Vera Fischer: em entrevista coletiva, atriz fala da carreira no passado, dos assédios e faz planos para o futuro
Vera Fischer: em entrevista coletiva, atriz fala da carreira no passado, dos assédios e faz planos para o futuro | Foto: Edson Vara/ Agência Pressphoto

O OFÍCIO DO CINEMA

Ela volta ao oficio de fazer cinema. “Tenho muita vontade de fazer um grande papel no cinema, falando das mulheres, dos homens, das crianças. Gostaria de produzir e inter pretar um filme, mas tá tão difícil hoje. No teatro também. Eu não tenho muito tempo, mas tem gente que está vendo isso pra mim. Quem sabe uma série, contando sobre minha vida. É muita estrada...Eu já escrevi e publiquei quatro livros sobre mim, e tem outros inéditos.” Sobre teatro no cinema, ela celebra Plinio Marcos e a versão de “Navalha na Carne” em que trabalhou. Mas morre de vontade de fazer Nelson Rodrigues. Ela se entusiasma com “Toda Nudez será Castigada”. Mas acrescenta, e sentencia: “Tudo dele é bom. E quero fazer mais, muito mais cinema e teatro.

Grave, ela encerra a entrevista falando sobre o assédio que sofreu ao longo da vida. E conta, aí já mais descontraída, sobre os truques que teve que usar para se livrar do cerco dos empresários do show business e de colegas de trabalho.

* O jornalista viajou a convite do Festival de Gramado.