Indústria da cerveja impulsiona cultura da cevada no Paraná
Área plantada cresce, ocupa 87 mil hectares, bate recorde no Estado e se expande em regiões como Campos Gerais e Norte Pioneiro
PUBLICAÇÃO
sábado, 28 de outubro de 2023
Área plantada cresce, ocupa 87 mil hectares, bate recorde no Estado e se expande em regiões como Campos Gerais e Norte Pioneiro
Lucas Catanho - Especial para a FOLHA
O cultivo da cevada ocupa uma área recorde neste ano em território paranaense. Levantamento feito pelo Deral (Departamento de Economia Rural) aponta que a cultura está ocupando 87 mil hectares, 2% maior em comparação ao ano passado, quando foram semeados 85 mil hectares.
Carlos Hugo Godinho, agrônomo do Deral, explica que a área tem crescido ao acompanhar a capacidade de transformar a cevada em malte (matéria-prima utilizada na fabricação de cerveja) no Paraná.
“O incremento se deu com a ampliação da indústria já existente e será ainda maior com o início dos trabalhos da nova planta industrial dos Campos Gerais, em Ponta Grossa”, pontua. A nova planta está em fase final de construção.
CLIMA MAIS QUENTE
Segundo o técnico, a expansão ocorreu principalmente em uma região mais quente. Enquanto a região de Guarapuava, mais fria, perdeu área, a cultura se expandiu nos Campos Gerais e mesmo no Norte Pioneiro. “São municípios na abrangência da Capal, que é uma das cooperativas envolvidas no projeto da maltaria nova”, detalha.
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O técnico explica que, quanto mais quente for a região, mais difícil fica a produção de cevada. “No entanto, novas cultivares que venham a surgir podem ser mais bem adaptadas e diminuir as dificuldades encontradas hoje”, diz.
PROJEÇÃO
Na esteira da área cultivada, a produção de cevada também caminha para ser recorde neste ano.
“A colheita está em progresso, apesar das dificuldades impostas pela chuva. Hoje, 17% da área está colhida e as produtividades estão variando um pouco. Nosso último levantamento reclassificou as lavouras em boas condições de 90% para 83%, com as restantes em condições medianas. É possível que tenhamos alguma revisão de produção, mas a expectativa no relatório de setembro era de que se produzissem 396,6 mil toneladas”, destaca. No ano passado, a produção alcançou 334,6 mil toneladas.
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Hoje, 100% da cevada produzida em território paranaense fica no Estado. “De certa forma, toda a produção é direcionada para a Agrária”, pontua.
MAIOR MALTARIA DA AMÉRICA LATINA
Localizada em Guarapuava, a Agrária – maior maltaria da América Latina – tem como carro-chefe a produção de malte pilsen, atendendo aproximadamente 30% da demanda do mercado brasileiro de cerveja.
Após recente ampliação, alcançou uma produção de 360 mil toneladas de malte por ano e passou a produzir alguns maltes especiais, como Malte Pale Ale, Vienna e Munique, todos com cevada 100% nacional.
Ao contarem com um mercado que absorve a cevada, os produtores têm hoje como maior desafio o clima. “As chuvas preocupam muito. A cevada para malte é uma cultura muito exigente em termos de qualidade, e o excesso de umidade está dificultando a colheita”, conclui Godinho.
DE FAMÍLIA
Egon Heinrich Milla é produtor de cevada familiar. Cultiva o cereal há 30 anos em Candói, região central do Paraná, desde quando a cooperativa Agrária construiu a maltaria em Entre Rios.
Hoje ele também planta milho e soja, sendo que, dos 3,2 mil hectares de terras, 500 hectares são destinados à cevada, em uma área pré-plantio de soja. No ano que vem, a expectativa é manter essa mesma área.
“Poderíamos cultivar até 1,6 mil hectares de cevada, mas reduzimos porque a rentabilidade está complicada. As variedades que temos que plantar, pela demanda da indústria, têm alta sensibilidade a doenças de folha, doenças de espiga, enfim, temos alto custo com fungicidas principalmente”, lista.
QUEDA NA PRODUTIVIDADE
A produtividade registrou queda neste ano em virtude do clima – são esperadas 3,5 mil toneladas de cevada em 2023, ante 4,2 mil toneladas no ano passado.
“Quase não teve frio este ano. A temperatura elevada encurtou um pouco o ciclo da cevada, não formou o peso do grão suficiente”, explica. Hoje, 100% da produção do agricultor é comercializada para a maltaria da Agrária.
Além de citar a menor produtividade, o agricultor cita a redução do preço, sendo que o cereal está sendo comercializado a quase 30% menos em 2023 em comparação ao menor preço obtido em 2022.
Outro desafio apontado é entregar um produto de qualidade, uma vez que os inúmeros critérios de classificação da cevada cervejeira geram deságios. “Nosso clima chuvoso, em anos de El Niño, costuma comprometer a qualidade da cevada”, conclui.
NO ESTADO
Relatório do Deral aponta que o VBP (Valor Bruto da Produção) da cevada alcançou R$ 580,4 milhões em 2022.
O maior produtor do cereal no ano passado foi Guarapuava, com mais de 26% de participação estadual. A produção no município do centro-sul do Paraná alcançou 86,5 mil toneladas, cultivadas em mais de 20 mil hectares de terras. O VBP atingiu a marca de R$ 150,8 milhões.
Na sequência vieram Pinhão e Candói, com 9,86% e 8,67% de participação, respectivamente. No ano passado, 68 municípios paranaenses cultivaram cevada.