Depois de alternar no posto de terceira maior cidade do Sul do País com Joinville (SC), Londrina pode perder a quarta colocação para a capital catarinense Florianópolis, conforme os dados prévios divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) colhidos até o final do ano de 2022.

Os números populacionais previstos para as principais cidades do Sul mostram um “boom” nas metrópoles catarinenses nos últimos 13 anos, principalmente em Florianópolis que cresceu 35% no comparativo com o Censo 2010, quando a capital tinha 420 mil habitantes divididos entre a famosa ilha e a porção continental. A previsão do IBGE é que o número ultrapasse a marca populacional dos 570 mil.

No mesmo período, a expectativa de crescimento de Londrina era de 16%, o que representaria 588 mil habitantes, conforme a última previsão do IBGE, mas o acréscimo populacional deve ficar entre 10% e 13%. Em 2010, a cidade tinha 506 mil habitantes e deve fechar o Censo 2013, previsto para ser divulgado a partir de maio, entre 565 mil e 570 mil moradores.

Neste mês de abril, as coordenadorias vão trabalhar com a apuração e tabulação dos dados de cada cidade e os recenseadores ainda retornam em locais, onde os entrevistados não foram encontrados para responder o questionário, o que pode influenciar nos resultados abaixo das projeções. Em Londrina, apenas dois setores de 915 ainda estão sendo visitados pelos recenseadores.

FASE DE APURAÇÃO

Antiga rival de Londrina e maior cidade do estado de Santa Catarina, Joinville se consolidou como a terceira cidade do Sul do País atrás apenas das grandes capitais Curitiba e Porto Alegre. E, por mais de uma década, a cidade referência nacional como polo industrial ganhou aproximadamente 100 mil moradores, o que representa um crescimento populacional de cerca de 20%, passando de 515 mil para 617 mil habitantes, segundo a previsão do IBGE.

Curitiba e Porto Alegre cresceram 6% e a capital paranaense segue como a maior cidade do Sul com 1,8 milhão de moradores. Já os municípios da Região Metropolitana de Curitiba registram crescimento de dois dígitos, como São José Pinhais (25%) e Fazenda Rio Grande (80%).

“É importante frisar que estamos ainda na fase de apuração do Censo Demográfico, que envolve validação dos dados já coletados e uma última busca nos domicílios nos quais ainda não conseguimos encontrar os moradores. Assim, os números que temos são tendências, que podem ou não se confirmar. Neste sentido, podemos apontar que teremos números próximos aos indicados”, esclareceu o coordenador técnico do IBGE no Paraná, Flávio Roberto Schüler de Oliveira.

O cidadão que não respondeu o questionário pode entrar em contato para participar pelo Disk Censo no número 0800 7218181.

AVALIAÇÃO AMPLA

Utilizada pela administração pública e pelo setor produtivo para planejamento das cidades e direcionamento de investimentos privados e estruturais, a publicação dos dados do IBGE são aguardados desde 2020, quando o Censo foi adiado por conta da pandemia do coronavírus. Os números também são usados para o cálculo do FPM (Fundo de Participação dos Municípios).

No ano passado, os recenseadores também enfrentaram dificuldades na coleta das informações de porta em porta e a conclusão dos trabalhos ficou para 2023.

A presidente do Sinduscon (Sindicato das Indústrias da Construção Civil) no Norte do Paraná, Célia Catussi, afirmou que com a concretização e publicação oficial dos dados, o setor produtivo e a administração pública devem fazer “uma avaliação bem ampla” de quais foram as ações tomadas na última década e qual o planejamento para os próximos 10 anos.

“O Plano Diretor é uma das ferramentas que o setor produtivo tem reivindicado com as leis complementares, além da industrialização da cidade e prioridades no planejamento para atrair novos moradores, gerar emprego e aumentar a renda do londrinense. É um momento de reflexão tanto do setor produtivo, quanto da administração pública”, comentou.

Catussi ainda ressalta que a análise do Censo precisa ser feita com outros dados, além da questão populacional, como escolaridade, renda, IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e PIB (Produto Interno Bruto). “O número de habitantes é um indicador positivo, mas não pode ser analisado de forma isolada. A preocupação apenas com o crescimento populacional dos municípios pode inchar as cidades, sem mão de obra qualificada e sem renda, o que prejudica a economia local”, avalia.

O presidente da Acil (Associação Comercial Industrial de Londrina), Angelo Pamplona, também ponderou que crescimento populacional nem sempre é sinônimo de desenvolvimento econômico e que cidades desenvolvidas costumam ter crescimento mais controlado, justamente para garantir a qualidade de vida.

“Um crescimento desproporcional pode trazer muitos problemas sociais e econômicos. Atualmente, os meios de produção diversificaram as formas de trabalho. É possível trabalhar a distância, e isso tem feito com que muita gente se desloque para cidades menores ou até mesmo a zona rural, sem prejuízo do emprego. Esse deslocamento foi perceptível na pandemia e pode ter ocorrido em Londrina”, pontuou

Ele também afirma que o ideal é esperar a consolidação dos dados do IBGE para análise do setor produtivo. “Vamos avaliar todo o cenário e ver se existem fragilidades que precisam ser trabalhadas dentro do espectro econômico para intensificar o desenvolvimento”, adiantou.

TURISMO, INFORMÁTICA E LITORALIZAÇÃO NA ONDA DAS METRÓPOLES DE SC

Além de belas praias, a "Ilha da Magia" tem outros encantos. O turismo é o principal cartão postal de Florianópolis, mas outros atrativos influenciam o crescimento demográfico da capital catarinense desde o final da década de 1990.

Segundo o economista Lauro Francisco Mattei, professor de Ciências Econômicas da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Florianópolis também passou a atrair novos moradores por conta das oportunidades de empregos, principalmente com a consolidação da capital e da Região Metropolitana como um polo industrial no setor de Tecnologia da Informação.

“Florianópolis tem uma cadeia de serviços além do turismo, como eventos, informática e universidades. Todos esses atrativos passaram a atrair novos moradores para a capital e explica o ‘boom’ demográfico da última década”, avalia.

Mas, o economista lembra que essa atração é um fenômeno que começou a se intensificar a partir da virada do milênio e foi batizado de “litoralização” em Santa Catarina com três principais áreas alvo da migração do interior para o litoral a partir do ano 2000. Além de Florianópolis, Balneário Camboriú e Joinville integram a tríplice lista.

Um dos principais polos industriais do Sul, Joinville compensa a ausência das praias com a pujança econômica e a geração de empregos. Próxima do litoral, a cidade também pode ser considerada universitária, mas tem na vocação industrial, acoplada aos serviços e comércio, o motor de desenvolvimento da cidade.

“O Parque Industrial de Joinville, com empresas dos setores eletroeletrônico e metal mecânico, tem o diferencial de estar muito articulado com a indústria nacional e com fornecimento de produtos para outros processos industriais em complexos em Curitiba e São Paulo, além da expansão do setor no mercado externo”, explicou Mattei.

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