Mortes violentas cresceram em janeiro deste ano no PR
Óbitos registrados em 2022 ainda podem aumentar, uma vez que há 15 dias de prazos para os registros
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022
Óbitos registrados em 2022 ainda podem aumentar, uma vez que há 15 dias de prazos para os registros
Vítor Ogawa - Grupo Folha
Apesar de o total de mortes em janeiro de 2022 no Paraná ter diminuído 4% e os falecimentos por mortes naturais - aqueles causadas por doenças - também terem caído 9%, as mortes por causas violentas - como homicídios, acidentes de trânsito e suicídios - aumentaram 75%, o que mostra que a diminuição do isolamento contribui para a elevação desses índices.
O número de óbitos registrados no mês de janeiro deste ano ainda pode aumentar, assim como a variação da média anual e do período, uma vez que os prazos para registros chegam a prever um intervalo de até 15 dias entre o falecimento e o lançamento do registro no Portal da Transparência. Além disso, alguns estados expandiram o prazo legal para comunicação de registros em razão da situação de emergência causada pela Covid-19.
O professor Cezar Bueno de Lima, da Escola de Educação e Humanidades da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), em Curitiba, afirmou que, em relação a mortes em acidentes de veículos, seria preciso analisar até que ponto a ausência do pagamento de pedágio pode ter aumentado o tráfego nas estradas. “Com o fim do pedágio, muita gente quis sair de casa para sair desse período de isolamento. De alguma forma esse desejo de retorno à normalidade, associado a esse retorno à liberdade de viajar, somado com a liberação temporária do pedágio, gera uma conjuntura na qual ocorrem os acidentes de veículos, porque o custo econômico do pedágio é considerável para a população paranaense.”
“Essa maior liberdade e sensação de não serem vigiados pela polícia podem ter causado um número grande de acidentes, com resultados fatais. A gente tem visto um número significativo de mortes nas estradas do Paraná durante as férias. Esse é um elemento que a gente precisava olhar com mais cuidado e com um lapso de tempo maior para dizer se essa é uma tendência estável, ou se é meramente sazonal.”
Tráfico de drogas produz uma série de homicídios
Já o caso de homicídios, Bueno explica que é evidente o elemento do tráfico de drogas, principalmente nas fronteiras, que produz uma série de conflitos que resultam em homicídios com uma certa estabilidade. “Talvez também pelo porte de arma maior e pela liberdade do uso da arma, isso resulte em uma maior propensão de conflitos que geram letalidade. Então é um caso para a gente estudar. São elementos novos.”
Já o aumento dos suicídios, aponta o pesquisador, é um ponto que efetivamente pode estar mais ligado ao isolamento social. “Muita gente entrou em depressão com a tendência das pessoas se isolarem cada vez mais. A gente não tem acesso ao sistema de saúde pública, mas no caso da PUC, em relação aos estudantes, a gente teve um número significativo de situações de transtorno mental, de depressão e outras doenças mentais e que foram realmente causadas e aprofundadas durante esse isolamento social.”
Em relação à crise financeira, Bueno diz que também pode ter sido um dos motivos para o aumento de registros de mortes. “Uma das tendências do suicídio é aquela em que você estava empregado e tinha uma renda estável e tinha um horizonte, mas, de repente, por conta da crise pandêmica, muita gente perdeu o emprego ou perdeu o seu próprio negócio. É bem possível que uma das causas possíveis seja isso”, expôs. Ele ressalta que a crise econômica já existia, mas foi demasiadamente expandida em razão da pandemia.
Sobre a relação do suicídio e do homicídio decorrente de relacionamentos familiares e amorosos conflituosos, o professor foi confrontado com a possibilidade de rompimentos de relacionamentos porque os casais e as famílias ficaram isolados dentro de casa e passaram a conviver mais e disso surgiram muitos atritos. “Eu diria que os homicídios nesses casos ocorreram por essa questão patriarcal. Durante a pandemia, a gente teve que reaprender a conviver e a falar com as pessoas. Em um momento de normalidade, muitas famílias estão presentes fisicamente, mas elas não se comunicam dentro de casa. Durante a pandemia, não. Você tem que permanecer dia e noite convivendo com a pessoa por um longo período. Evidentemente isso gera conflito."
Bueno ressalta que daqui para frente, à medida que a normalidade vai se impondo, a tendência é que as pessoas retornem às suas rotinas de trabalho, de estudos, e aos seus afazeres cotidianos. "Conforme isso for consolidando a propensão é de que tudo retorne aos patamares, digamos, entre aspas, aceitáveis de mortes por essas causas citadas aqui.”
Porém, algumas mudanças podem reduzir as mortes a curto prazo. “Algo que a gente pode melhorar é o combate ao feminicídio, que é uma questão cultural. É evidente que um isolamento social pode aumentar a tendência do feminicídio, mas é uma questão patriarcal e sociocultural. A gente precisa corrigir pela educação. Jamais se pode aceitar que o homem mate a sua companheira, a sua esposa. É um processo que temos que trabalhar, seja do ponto de vista da lei, seja do ponto de vista das mudanças culturais, através da educação."
"Já o suicídio, é possível que a gente tenha uma redução das taxas à medida que as pessoas começarem a vislumbrar uma perspectiva de retorno e a possibilidade de mobilidade social ascendente, de retornar a um equilíbrio das suas vidas do ponto de vista econômico e das relações pessoais”, conclui.
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