Futebol e política sempre andaram juntos. O poder, muitas vezes, passeia entre esses dois mundos com representantes que, em muitas oportunidades, deixam de lado a ética, a postura e o “amor à camisa”. E essa relação é antiga, sendo que, a cada dia, o futebol deixa de ser apolítico. Um dos primeiros exemplos da mistura dessa relação é a divulgação que alguns atletas fizeram, na Europa, pela independência da Argélia. Posteriormente, a FIFA, entidade que comanda o futebol mundial, propôs um “jogo amistoso” para tentar selar a paz entre os lados.

Outro exemplo mais antigo de nacionalismo relacionando futebol e política aconteceu há mais de seis décadas, com Mussolini que, com palavras de ordem em caráter totalitário, convocava jogadores italianos como “soldados a serviço da causa nacional”. Eles retribuíram com conquistas em duas copas consecutivas: a de 1934 e 1938.

No Brasil, o período mais marcante da relação entre futebol e política foi o da ditadura militar (1964-1985), mais especificamente no governo do General Médici, quando promoveu uma campanha publicitária associando a imagem da seleção brasileira ao governo militar. Naquele momento, Pelé chegou a ser “garoto propaganda” do governo Médici, e teve sua imagem atrelada a um projeto na área da educação: o Plano Pelé.

Mais recentemente, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, sociólogo de formação, avaliou o comportamento dos brasileiros no campo político fazendo analogia à torcida de futebol. Nesse contexto, comparou os atletas da seleção brasileira com os políticos, dizendo que esses “quando não fazem gol, a torcida fica o tempo todo contra”.

Ainda no Brasil, ocorreu uma das maiores tragédias da história do futebol. Do futebol? A resposta é fácil: a comoção e repercussão do acidente aéreo mostraram, mais uma vez, a relação desse esporte com a sociedade e seu poder de mobilização e união entre as pessoas. No futebol, as emoções estão nos “lances” que podem determinar o resultado do jogo e gerar alegria ou tristeza para o público. Na vida, não é diferente. Cada “lance” mostra nossa fragilidade, nossa vulnerabilidade. O Chapecoense provou isso. O lance da vida nos levou à tristeza, à dor da perda, ao sentimento humano aflorado, sentimento esse que parecia sucumbido em dias de banalização da vida e nos mostrou que a solidariedade ainda existe.

Em 2022, nosso país evidencia, mais uma vez, a natureza apolítica do futebol, estamos em ano de eleição e Copa do Mundo, dois eventos que, por si, já geram engajamento e despertam um sentimento de patriotismo. No entanto, o que ficará marcado nesta história? O principal jogador da seleção fez recentes declarações em apoio ao ainda presidente do país, pela sua tentativa de reeleição.

Seria natural, em outra circunstância, menos polarizada, o que levou a discussões se o apoio teria sido, realmente, um ato patriota, ou se haveria interesses mútuos.

O que aprendemos, afinal, dessa relação? O futebol é cheio de regras, igual à vida, uma vez que se, e somente se o árbitro e os jogadores não as refutarem, o espetáculo acontece. Isso não difere do campo político. É possível mudar nosso país se cada um fizer sua parte em torno do que é justo, pois, no campo dos fatos políticos, a expectativa é, ainda, de outra natureza, nem sempre de alegria.

É a expectativa das medidas provisórias, emendas constitucionais e outros embrulhos. Mas estamos na torcida, pois hoje temos a certeza de que “não é só futebol”, acreditamos que ainda há esperança no campo da democracia (...)

Rosinaldo Nunes Cardoso, de Campo Mourão, é professor universitário, mestre em administração e especialista em gestão de pessoas

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