Ao completar um ano do primeiro caso de Covid-19 ser registrado no Brasil, o Paraná se destaca no cenário nacional como o estado com maior fila por leitos do país: 1.185 pessoas aguardavam vagas na quarta-feira (10) - 567 para UTIs e 618 para leitos de enfermaria. Trinta dia atrás, a fila era composta por 45 pessoas. A prevalência da variante brasileira do Sars-CoV-2 no estado é apontada como principal fator da rápida elevação do número de infectados, muitos deles em estado grave e permanecendo em hospitalização por tempo maior.

Mas não podemos jogar apenas nas custas das novas cepas, muito mais contagiosas, o aumento assustador de casos. A realidade bateu às portas dos paranaenses para cobrar as contas das aglomerações em festas irregulares do final de ano, Carnaval, praias lotadas no verão, churrascos, ruas e parques lotados de pessoas sem máscaras.

O Estado acaba de sair de um período de restrições mais severas de 12 dias - não foi exatamente o lockdown. Mas por incrível que pareça, a situação vem piorando dia a dia. Ao justificar o fim do lockdown, o governador Ratinho Junior afirmou que março será um mês muito difícil e que era necessária a oxigenação no comércio, para que o segmento não fosse tão prejudicado. "O que vai fazer a gente salvar vidas, agora, é a consciência de cada um. Não é um decreto, uma folha de papel, uma assinatura minha que, sozinha, vai salvar vidas, mas sim as pessoas entenderem que estamos na maior guerra de saúde pública dos últimos cem anos", afirmou o governador. Paralelamente ao aumento de casos, percebe-se a exaustão física e emocional dos profissionais da área de saúde que estão na linha de frente da Covid-19.

A situação é dramática. A tese de que a saúde e economia caminham juntas e não precisam ser opostos na trajetória da pandemia esbarra em algumas questões. Uma delas é comportamental: todos que saem de casa precisam realmente estar nas ruas? Qual o sentido de uma família inteira ir ao supermercado fazer compras quando apenas uma pessoa seria suficiente?

Outra reflexão é de sobrevivência. O lema "fique em casa" não é tão fácil de cumprir para as camadas da população que não têm renda, que perderam os empregos e agora contam com o auxílio do governo ou da compaixão de amigos e parentes. A instabilidade econômica é tanto uma ameaça ao enfrentamento do vírus, quanto a falta de foco do brasileiro com a saúde coletiva.

Nesta sexta-feira (12) completa um ano da confirmação do primeiro caso do novo coronavírus em Londrina. Naquele dia de 2020 ninguém imaginava que a pandemia completaria aniversário de uma maneira tão preocupante. É imprescindível tirar uma lição de vida desses 12 meses de guerra contra um inimigo invisível e poderoso. Enquanto governo e sociedade, precisamos estar melhor preparados para enfrentar os tempos difíceis.

A Folha deseja saúde a seus leitores!