No dia 18 de maio, foi celebrado o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Na matéria publicada pela Folha, no dia 10, Cláudio Melo, presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), fez um alerta: “Temos que continuar combatendo a violência...” Na capa, a foto de um cartaz exposto em um evento e, possivelmente, escrito por uma criança, anunciava: “Ninguém mexe no meu corpo”, e, em seu canto inferior esquerdo: “Denuncie – disque 100”. Em outro cartaz, aparecia: “Abuso é crime. Denuncie”.

É necessário denunciar, porque, além de levar à punição a pessoa que violentou, ajuda a evitar que outros/as sejam vítimas. Em Londrina e região, podemos fazer a denúncia – mesmo que seja uma suspeita – ao Nucria Londrina (Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes). Esse órgão, que atende pelo telefone 3325.6593, recebe a denúncia, que pode ser anônima, e cuida das medidas a serem tomadas. Quando o autor tem entre 12 a 18 anos, deve-se procurar a Delegacia do Adolescente, que, por se tratar de ato infracional, tomará as medidas necessárias, conforme estabelece o ECA. Em Londrina e várias outras cidades, pode-se também fazer uma denúncia anônima no Conselho Tutelar da cidade, cujo telefone geral é 125.

Eu pergunto: em todas as salas de aula, das escolas públicas e particulares, foi trabalhado esse assunto? Se nós, professores/as, educadores/as, profissionais da Educação, pais e mães, nos omitirmos e não trabalharmos a prevenção desse tipo de violência, seremos coniventes e corresponsáveis por qualquer caso que venha a ocorrer. É importante prevenir e proteger, ou seja, ficar atento/a para evitar toda situação em que a criança possa estar vulnerável. Em países avançados, a taxa de violência sexual é baixa, porque os abusadores sabem que crianças e adolescentes estão conscientes de que tal comportamento é crime, assim, irão reagir e contar se algo acontecer.

A criança ingênua fica vulnerável e, por isso, cai por terra a ideia de manter sua inocência. É fundamental dizer-lhe que precisamos proteger nossas partes íntimas e que nenhuma pessoa maior que ela pode tocar nelas, utilizando o nome ou mesmo o apelido que a criança costuma usar para essas partes do corpo. A criança que sabe o que é sexo e entende que é coisa de gente grande, sabe quando a estão seduzindo e tentando abusar dela; portanto, tem muito maior chance de reagir e impedir.

Não basta dizermos uma única vez. É preciso repetir em várias outras ocasiões. Mães, por exemplo, podem aproveitar a hora do banho com os pequenos ou o momento em que os está vestindo; com os maiores, podem criar momentos de conversa. É essencial dizer com firmeza, mas sem apavorar a criança.

Em casa e na escola, é bom ajudar a criança a ter êxitos nas coisas que aprende, como, por exemplo, nas matérias escolares e em alguns serviços domésticos, de modo a investir em sua autoimagem. Crianças com baixa autoimagem são mais vulneráveis, mais visadas como vítimas. Em meu canal no youtube, um rapaz revelou: “Eu não fui protegido, fui abusado sexualmente na infância por adolescentes.” Escreveu um outro: “Eu comecei a vida sexual com 12 anos de idade, sem entender nada de sexo ainda muito inocente; iniciei sendo passivo com garotos mais velhos. Não sou gay, aconteceu por não saber das coisas”.

É necessário que pessoas que sofreram violência sexual possam fazer terapia, pois as consequências são muito danosas e se fazem presentes ao longo da vida. Para citar algumas: dificuldades de aprendizagem, dificuldades sexuais e de relacionamento e culpa – embora o único culpado seja o abusador. Lembremos: é um fenômeno presente em todas as classes sociais, e os abusadores, geralmente, são pessoas conhecidas da criança, muitas vezes, do círculo familiar. Fiquemos atentos para dois fatos importantes: meninos e não apenas meninas podem ser violentados, e mulheres também podem ser abusadoras, embora sejam homens os mais frequentes.

Mary Neide Damico Figueiró

Psicóloga, doutora em Educação, professora aposentada da UEL e autora de quatro livros sobre educação sexual