O corpo humano é regulado pelo equilíbrio entre as ações do sistema nervoso e do sistema endócrino, composto por glândulas que produzem hormônios conforme as necessidades do organismo. A melatonina é um desses hormônios, também responsável por regular o ritmo biológico. Danilo Avelar, especialista em Farmacologia e professor de Biomedicina do CEUB (Centro Universitário de Brasília), explica como essa substância age no organismo humano e alerta sobre o uso indiscriminado do medicamento.

De acordo com o professor, a melatonina é produzida pela glândula pineal, localizada no diencéfalo, perto do sistema límbico, responsável por funções como memória e emoções.

Segundo ele, a principal função da melatonina é regular o ciclo circadiano, que coordena hábitos como sono, fome e percepção do dia e da noite. “As funções da melatonina incluem regular a fome e o sono em horários fixos, a percepção do dia e da noite, induzindo o sono à noite com ajuda dos fotorreceptores, que captam a luminosidade”, explica Avelar.

Avelar acrescenta que a melatonina é liberada quando o corpo detecta a ausência de luz, normalmente no início da noite. Os fotorreceptores na retina enviam sinais à glândula pineal, que libera o hormônio, preparando o corpo para dormir. Pela manhã, com a luz, a produção é interrompida. O pico de produção de melatonina ocorre entre 2h e 3h da madrugada, variando de acordo com a individualidade biológica.

MELATONINA EM ALIMENTOS

De acordo com o docente do CEUB, a melatonina natural pode ser encontrada em alimentos ricos em triptofano, como carnes e laticínios, e em alimentos que contêm melatonina, como vinho e frutas, porém não há evidências científicas sólidas de que consumir esses alimentos aumente os níveis sanguíneos de melatonina ou ajude no tratamento da insônia.

Já a melatonina sintética, produzida em laboratório, pode ter concentrações manipuladas e é absorvida mais rapidamente pelo corpo em comparação com a melatonina natural.

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CIRCUNSTÂNCIAS DIVERSAS

A melatonina pode ser recomendada em circunstâncias diversas que podem “atrapalhar” o processo do sono, como estresse moderado, barulho, uso de medicamentos, estímulos luminosos no ambiente e até a idade, pois com o envelhecimento, a produção desse hormônio tende a cair.

“O uso suplementar de melatonina pjet-lagmir só deve ser indicado por um médico e como auxílio para estímulo do sono – não como tratamento para insônia, por exemplo. Ela pode ser indicada em casos de jet-lag, para idosos com baixa produção do hormônio, ou em crianças com TDAH ou TEA”.

FUNÇÃO ANTIOXIDANTE

Além de auxiliar no sono, Danilo destaca que a melatonina possui funções antioxidantes que ajudam a proteger o sistema nervoso e a prevenir a neurodegeneração. “O uso da substância pode fortalecer o sistema imunológico e pode ajudar a combater doenças como Alzheimer, influenciando positivamente o humor e reduzir o risco de estresse, depressão e ansiedade.”

DOSAGEM

Sobre a dosagem adequada, o professor menciona a regulamentação da Anvisa, que melatonina pode ser usada como suplemento alimentar em adultos com dose máxima de 0,21 mg por dia.

Em crianças, o uso deve ser supervisionado por um médico, com dosagens individualizadas. O tempo de uso, geralmente limitado a três meses, também deve ser determinado por um médico após avaliação clínica e, se necessário, laboratorial. O suplemento não é recomendado para lactantes e gestantes.

DOR DE CABEÇA E ANSIEDADE

O farmacologista do CEUB alerta que, como todo medicamento, o uso excessivo de melatonina pode trazer efeitos adversos, especialmente em doses altas. Entre os possíveis efeitos, estão dor de cabeça, náuseas, sonolência diurna, tonturas, cólicas abdominais e tremores.

“Em alguns casos, também pode causar ansiedade leve, piorar quadros de depressão, aumentar a pressão arterial, além de provocar sonhos excessivos, sudorese noturna e prurido.”

INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS

Segundo Danilo Avelar, a melatonina pode afetar a eficácia de alguns grupos de medicamentos, entre eles:

- Anticoagulantes e Antiagregantes Plaquetários: o uso conjunto de melatonina com anticoagulantes e antiagregantes pode aumentar o risco de sangramento;

- Anticonvulsivantes: a melatonina pode inibir os efeitos dos anticonvulsivantes e aumentar a frequência de convulsões, particularmente em crianças com deficiências neurológicas;

- Anti-hipertensivos: a melatonina pode piorar a pressão arterial em pessoas que tomam medicamentos para hipertensão;

- Depressores do Sistema Nervoso Central (SNC): a combinação de melatonina com medicamentos que agem no SNC pode causar um efeito sedativo aditivo;

- Hipoglicemiantes (medicamentos para tratar o diabetes): a melatonina pode afetar os níveis de glicose no sangue, portanto, pacientes diabéticos devem consultar um médico antes de usar melatonina;

- Contraceptivos Orais: o uso de contraceptivos orais com melatonina pode causar um efeito sedativo aditivo e aumentar os possíveis efeitos colaterais da melatonina;

- Substratos do Citocromo P450 1A2 (CYP1A2) e Citocromo P450 2C19 (CPY2C19): pacientes que tomam medicamentos afetados por estas enzimas, como o diazepam, por exemplo, devem usar melatonina com cautela;

- Fluvoxamina (Luvox): usado para tratar transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), pode aumentar os níveis de melatonina, causando sonolência excessiva;

- Medicamentos que diminuem o limiar de convulsão: tomar melatonina com esses medicamentos pode aumentar o risco de convulsões.

(Com informações do CEUB)